O “Beijo de Ópio” esquecido, 1928

Portela de Tempos Atrás

No início do Século XX, o desfile dos ranchos pelas ruas do Rio de Janeiro, conhecido como “O Dia dos Ranchos”, era um momento muito aguardado no carnaval. Podemos compará-lo ao atual desfile das escolas de samba. Além do cortejo nas ruas, os ranchos reuniam membros e convidados em suas sedes e clubes para bailarem e homenagearem uma dezena de instituições e personalidades. Durante as festas eram cantados e tocados grande variedade de ritmos, dentre eles polcas, marchas, maxixes e sambas.

No carnaval de 1928, o Jornal do Brasil patrocinou “O Dia dos Ranchos”, que ocorreu na segunda-feira, dia 20 de fevereiro. Entre as agremiações participantes estava o rancho Flor da Lyra de Bangu, com o enredo “O Cortejo de Flora”, onde “Flora” representava a deusa das flores. O rancho de Bangu não venceu o desfile, mas ficou em primeiro lugar nas categorias “Originalidade” e “Estandarte”.

A fim de comemorar o feito, o Flor da Lyra convocou um grande baile no sábado, dia 25 de fevereiro, em sua sede. O ocorrido foi publicado pelo Jornal do Brasil, na terça-feira, dia 28 de fevereiro. Esqueça as fotos ali postadas. O fato que queremos destacar está no final da segunda coluna e  continua no início da terceira coluna.

A reportagem, reproduzida acima, descreve o baile do rancho Flor da Lyra de Bangu, terminando com o seguinte parágrafo:

Dentre as músicas que se destacaram durante o transcurso da inesquecível festa, executadas pela jazz-band Campanha temos a seguinte, bisada oito vezes, em homenagem ao Jornal do Brasil: ‘Beijo de Ópio’, samba carnavalesco, letra e música de Heitor e Paulo.”

Em seguida, a matéria reproduz a letra do samba:

“Dizem que teus beijos

É qual o ópio que sonhos

Lindos fazem gozar, gozar

Matae-me o desejo neste instante

Dae-me este beijo importante

Quero dormir e sonhar

Amor, amor, se teu é importante

E é de grande valor

Beijar, beijar

Dormir, dormir

Sonhar, sonhar

Beija, que goso

Oh1 Vem dar-me este beijo

Nem que seja venenoso

Para eu crer se faz gozar ou sofrer”

A reportagem deixa claro que o samba “Beijo de Ópio”, composto em 1928, tem como autores Heitor dos Prazeres e Paulo da Portela.

Sessenta anos depois, em 1988, o samba foi regravado por Alberto Lonato e Casquinha, no LP “Velha Guarda da Portela: Homenagem a Paulo da Portela”, pela Ideia Livre Produções Culturais Ltda.. O samba é a quinta faixa do Lado B, se chama “Ópio” e os dois compositores da obra seriam Paulo da Portela e Casquinha. A letra da segunda parte do samba também é outra.

Surge então a questão: por que Casquinha, que em 1928 tinha apenas seis anos de idade, aparece no lugar de Heitor dos Prazeres como um dos autores do samba citado?

Como a história é longa vamos para um intervalo e retornamos na semana que vem. Enquanto isso curtam no vídeo abaixo o samba “Ópio”, composto por Paulo da Portela e… alguém mais.

Marcello Sudoh – Presidente do Consulado da Portela no Japão

ARVE Error: Mode: lazyload not available (ARVE Pro not active?), switching to normal mode

Facebook Comments