Portela reverencia mestres como Candeia e Waldir 59 em noite de samba prestigiada por Nelson Sargento

Portela na Lapa

Samba, agoniza, mas não morre. Sábio verso do baluarte mangueirense Nelson Sargento que, de própria voz, revigorou seu significado na noite da última quinta-feira (13), no Multifoco Bistrô. A 2ª edição do Portela na Lapa foi uma celebração ao samba de raiz, da união e respeito entre sambistas autênticos.

Nelson Sargento fez questão de comparecer ao evento que homenageou compositores da azul e branco, a chamada Turma do Muro, composta por nomes como Candeia, Casquinha, Waldir 59, Picolino, Bubu e Wanderlei. O mangueirense foi recebido pelo presidente da Portela, Luis Carlos Magalhães e o direitor do Departamento Cultural, Rogério Rodrigues. “A Portela não é uma escola de samba que só vive pra desfilar no carnaval; também produz cultura e uma noite como essa é a prova”, afirmou Magalhães.

O projeto busca resgatar a relação entre o samba de Oswaldo Cruz e Madureira e o tradicional reduto da malandragem carioca, na Lapa. “Aqui, literalmente, cantamos e contamos a trajetória da escola”, resume Rogério Rodrigues.
 
Dito e feito. Logo depois de o Conjunto Praça XI, responsável pela parte musical do evento, executar o histórico samba-enredo de 1953, “As Seis Datas Magnas”, o convidado especial João Batista Vargens fez sua participação. Este samba foi o primeiro assinado por mestre Candeia para a escola, no carnaval que ficou conhecido como o dos “400 pontos”, porque não houve julgamento no ano anterior. Vargens descreveu seu primeiro encontro com Casquinha e sua ida à casa de Candeia, com quem passou a ter contato mais próximo. Vargens se inscreveu em concurso da Funarte e ganhou autorização para escrever a biografia “Candeia, Luz da Inspiração”, publicada postumamente.

João Batista Vargens também é autor dos livros “A Velha Guarda da Portela”, em parceria com Carlos Monte, pai da cantora Marisa Monte, “Casquinha, Andanças e Festanças” e “Monarco, a Dignidade do Samba”.

O repertório musical da noite foi montado especialmente pelo Conjunto Praça XI. Teve um primeiro bloco formado por sambas campeões da Portela da década de 30, 40 e 50. Além do citado acima, “Brasil, Pantheon de glórias” (Candeia, Bubu, Casquinha, Waldir 59 e Picolino) 1959, “Linda Guanabara” (Paulo da Portela) 1935, o lendário “Teste ao samba (Paulo da Portela) 1939, “Dez anos de glória” (Chatim e Bibi) 1941, “A vida do samba” (Alvaiade e Bibi) 1942, “Brasil, terra da liberdade (Alvaiade e Nilson) 1943e  “Brasil glorioso” (Ventura) 1945.

Na segunda parte, além de homenagens à velha guarda, três preciosidades: sambas inéditos dos primeiros tempos dos agrupamentos de Oswaldo Cruz (década de 1920), ainda chamados de blocos: “Favela tem o seu cruzeiro”, primeiro samba de Antônio Rufino e o segundo feito para o Conjunto Carnavalesco de Oswaldo Cruz, entre 1925 e 1926 – o samba era dado como perdido; “Ora chove e molha a flor”, de Caetano e João da Gente; “As Mulheres São Rosas”, de Paulo da Portela.

O Conjunto Praça XI é um sexteto, que se dedica à pesquisa e execução de sambas dos antigos compositores das escolas de samba e da época de ouro do rádio. O repertório é majoritariamente composto de sambas de terreiro (ou de quadra), mas também conta com sambas de enredo dos primeiros tempos das escolas e partido-alto, inclusive músicas inéditas, recuperadas da memória dos personagensainda vivos daquela época. O objetivo é mostrar obras esquecidas e valorizar o nome de compositores, alguns praticamente relegados ao anonimato.

Um dos líderes do conjunto, Wagner de Almeida afirma que a Portela é a única entre tantas escolas exaltadas que abre espaço e apoia as iniciativas do grupo, além de valorizar a própria história da agremiação e de seus personagens, “fundamentais para a consolidação do samba e de toda a cultura que o cerca”. “É, sem dúvida alguma, um grande incentivo, combustível, talvez o maior, para a continuidade de um trabalho, hoje considerado anacrônico, diante dos ditames da indústria cultural”, opina.

O Multifoco Bistrô é um casarão com dois andares na Lapa. “Tem sido um prazer organizar o Portela na Lapa. Estar com Nelson Sargento foi uma das maiores emoções que já vivi”, refletiu Evandro Vital, produtor da casa e um dos idealizadores do projeto de abrir espaço para a escola na região boêmia da cidade.

Adoentado, o presidente de honra da Portela, Monarco, não pode comparecer ao evento e encontrar seu velho companheiro mangueirense. A próxima edição do Portela na Lapa vai ocorrer no dia 8 de junho. #vemconheceresseamor

Portela na Lapa Turma do Muro

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